JORGE
      Com cinqüenta e cinco anos bem vividos, como ele mesmo dizia, Jorge se considerava um homem de sorte.
       Nasceu de família pobre e hoje era sócio da fábrica de parafusos do seu falecido sogro. Na verdade era casado com a sócia da fábrica. O outro sócio era seu cunhado, Adalberto que na opinião de Jorge, um sujeito metido a grande coisa, que só porque fez faculdade e trabalha numa multinacional se acha melhor que os outros.
Jorge trabalha muito. É o primeiro a chegar e o último a sair. Comanda tudo com pulso firme. Ama aquela fábrica! Começou na função mais subalterna e hoje é o dono! Quer dizer, é casado com a dona e cunhado do outro dono. Mas na maior parte do tempo ele não se lembra desse detalhe. Afinal é ele que cuida de tudo, desde a produção até a venda. Supervisiona, pois a fábrica cresceu tanto que foram necessárias várias mudanças, criação de departamentos com seus respectivos encarregados, gerente disso e daquilo, departamento de pessoal e os cambal. Mas apesar de ter chefes e gerentes às pencas ele é o manda chuva! Delegar não é com ele.
Jorge está muito feliz, e não é com o lucro da fábrica. Jorge está apaixonado! E acredita piamente que é correspondido. Janaina é o nome da sua paixão, e ela tem vinte e três anos, dois anos a menos que sua filha.
Tem horas que ele nem acredita como é possível uma moça como Janaina gostar dele. Gostar é pouco, ela o venera, admira, respeita, bem o contrário da sua mulher que o vê como um marido qualquer. Não o valoriza, talvez por não ter um diploma de faculdade, por não falar inglês como Adalberto
O tempo que ele passa com Janaína é só felicidade. Ela está sempre feliz, acha graça em tudo que ele fala, não economiza elogios!  Já Helena, sua mulher, nem quer ouvir falar em parafuso, porca ou arruela. Não quer saber se faltou funcionário ou se o sindicato está atrapalhando.
Jorge acha que o motivo de Janaína ser tão maravilhosa é por estar apaixonada, porque a vida dela não é fácil, coitada. Órfã de pai, mãe rigorosa e padrasto terrível! E com tudo isso ela é uma filha amorosíssima e preocupada com toda a família. Motivos não faltam, pois como ficam doentes os parentes dela! Cada doença complicada! E pra piorar ninguém tem plano de saúde. A mãe dela tem uma doença rara que aflige a pobre filha. Janaína tem medo que a mãe morra e ela tenha que ficar morando com o padrasto, pois pra complicar, tem irmãos menores e ela amorosa como é, jamais os abandonaria.
(continua)

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