Janaina
Janaina sempre teve certeza que Jorge gostava muito dela, pois ele sempre reclamava de se encontrarem pouco, por ela ter que ir embora rápido. Foi esta certeza que fez com que ela se comportasse desta forma muito carinhosa. Achando que ele ia dar cambalhotas de alegria deu inicio ao plano, mas não foi o que aconteceu. Bem que ele tentou disfarçar, mas ele pareceu mais assustado do que feliz. Será que ele não gostava tanto dela? Era fingimento? Precisava do conselho de alguém mais experiente, mas não tinha ninguém em quem pudesse confiar. Foi assim que ela se lembrou do tempo que morava no quintal com muitas famílias e das historias que ouvia os adultos contarem. Alguma deveria servir. Gostando ou não Jorge teria que ficar com ela. Já fazia quase um ano que ela o suportava em troca de um pouco de dinheiro que era arrancado a custa de mentiras elaboradas. Não ia criar sozinha uma criança, pois sabia que sua mãe não a ajudaria se não tivesse lucro. Precisava continuar com o plano, pois o tempo estava passando e logo não daria pra disfarçar a gravidez. Não pretendia contar pra ele por enquanto. Isto seria seu trunfo, sua última jogada. Daqui a dois dias tentaria uma nova investida.










       Jorge
       Jorge tinha se encontrado “casualmente” com um amigo da época que era operário. Relembraram os velhos tempos. O amigo ficou lisonjeado com a atenção do amigo empresário. Combinaram de reunir a turma toda para um churrasco na sua casa e com direito à piscina. Que bom que Helena estava viajando! Os filhos não seriam problema, bastaria mencionar churrasco com antigos amigos que eles sumiriam.  Nesta reunião ia sondar quem seria mais adequado para ajudá-lo a fazer seu ninho de amor. Seria uma surpresa para Janaina, afinal ela merecia por ser tão... tão... como ela é.
Tudo estava se encaminhando, já tinha pedido a liberação do dinheiro com a desculpa de mandar para Helena, só não entendeu o olhar surpreso do funcionário. Quem se importa?
Desde que conheceu Janaina Jorge só pensava em ficar com ela o tempo todo, mas a fábrica, seu casamento e a família dela eram empecilho. Mas agora com a possibilidade de alugar uma casinha para eles se encontrarem, talvez pudessem ficar mais tempo juntos e Janaina não se sentiria tão envergonhada. Tudo iria melhorar. Feliz da vida atendeu o telefonema inesperado de Janaina chamando para se encontrarem. Ia ser difícil guardar segredo, mas não queria estragar a surpresa.
Jorge estranhou o comportamento de Janaina. De repente ela que era tão amorosa com a família, começou reclamar da sua mãe, dizer que estava cansada de ser controlada, que queria ter controle da sua vida, amar quem bem entendesse. Esta mudança de comportamento ao invés de deixá-lo contente como era de se esperar o deixou um tanto assustado. Ela estava mais amorosa, relutante ao ir embora, dizendo que queria ficar mais tempo com ele. Muito estranho! Tentou não demonstrar sua estranheza e aproveitar o máximo esta nova Janaina. Quase contou da casinha, achando que isso ia acalmá-la, mas resolveu esperar, afinal estava levando vantagem.

Helena
A viagem não poderia ser melhor. Helena estava muito feliz. Nos primeiros dias ficou receosa de encontrar alguma pessoa conhecida, mas depois relaxou. Passearam, visitaram museus, fizeram muitas compras, foram aos lugares turísticos e até esquiaram.  Fazia tanto tempo que não fazia uma viagem como essa e em tão boa companhia que não tinha pressa nenhuma de voltar.  Roger, então estava no céu.
Helena estava sempre falando com Adalberto e ele mandava dinheiro para ela, pois a viagem estava demorando mais que o previsto, e os gastos também. Falava quase todos os dias com os filhos para matar a saudade e saber o que estavam fazendo e aproveitava pra contar as novidades. Algumas vezes falou com Jorge e o achou um tanto rabugento, parece que contrariado por ela estar viajando. Não via motivo pra isso, pois ele tinha sua “distração”. Quando ela perguntava dos filhos, se ele estava cuidando direitinho, Jorge falava que eles estavam vivendo da forma que Helena tinha ensinado. Não seria o mau humor do Jorge que atrapalharia sua viagem.
      Janaina
No bairro todo mundo conhecia a fábrica de parafusos.  Sempre tinha alguém que tinha trabalhado lá,  um parente, ou um conhecido. E todo mundo pensava que Jorge era o dono, inclusive Janaina e família. Desesperada com a possível gravidez, a idéia de viver com Jorge já não parecia tão repulsiva. A possibilidade de ser mulher do dono da fábrica amenizava o problema. Precisava de um plano.
Jorge nunca tinha falado da mulher e ela nunca se interessou em saber, mas a situação agora exigia. Começou perguntando para os amigos que tinham trabalhado na fábrica tudo que era possível saber sem despertar suspeita, como se tivesse interessada em trabalhar lá. Perguntou como era a mulher do dono, se trabalhava lá, se freqüentava as festas, etc. O Alê falou que as duas eram muito gatas. Duas? Como assim? Ele explicou que eram dois sócios, duas mulheres. Sócio? Isso seria mais um problema. Então eles se entusiasmaram descrevendo as esposas: que eram bonitas e usavam cada roupa linda! E o cabelo? Não tinha um fio fora do lugar. E o cheiro? Só podia ser perfume francês. Falaram das jóias, do sapato e até das unhas.  Janaina ficou deslumbrada só em pensar que um dia a descreveriam assim.
Não ajudou muito saber como era a mulher do Jorge, mas pelo menos ela ficou mais motivada a viver com ele.

  Jorge
Jorge estava meio perdido, Janaína andava triste, preocupada com problemas familiares, coitada, e Helena viajou para o exterior um tanto às pressas, queria estar lá no inverno pra ver neve! Sem muito que fazer depois do trabalho ia cedo para casa e dormia na sala assistindo televisão.
Não parava de pensar num jeito de conseguir dinheiro, precisava aproveitar a viajem da Helena. Afinal de que adiantava ela estar viajando se ele não tivesse vantagem nenhuma? Pensou que ficaria mais tempo com Janaína, mas ela amorosa demais com a família só ligava pra matar a saudade por telefone e estava sempre ajudando alguém. Os filhos mal ficavam em casa à noite.  Clara ainda deixava bilhete dizendo onde estava e com quem, Jr nem se dava ao trabalho.
Em relação ao dinheiro que precisava para pelo menos alugar uma casinha ou apartamentinho e mobiliá-lo, talvez a viajem de Helena servisse de desculpa. Faria retiradas na fábrica como se fosse  para mandar pra Helena. Adalberto não questionaria os gastos da irmã. O problema de dinheiro estava resolvido, agora precisava achar alguém pra ser o locador do imóvel. Droga!  Se o Adalberto não fizesse marcação cerrada... Trabalhar na fábrica o belezão nunca quis, mas desfrutar do dinheiro ele sabia muito bem.

HELENA
Foi um tanto arriscado propor que viajassem juntos. E se ele topasse? Felizmente como era de se esperar Jorge recusou com as desculpas de sempre. Agora a segunda parte do plano: convidar Roger. Então era ver quando ele poderia viajar e marcar as passagens.
Helena decidiu que falaria primeiro para seus filhos que ia viajar sem o Jorge. Fingiria estar chateada por Jorge não querer ir também, assim eles seriam seus aliados caso Jorge pusesse qualquer obstáculo e também não desconfiariam que ela ia viajar acompanhada.
Mal podia esperar para falar com Roger, enquanto isso começou a escolher o itinerário.




      JANAÍNA
Janaina que nasceu Jucimara tinha vergonha do seu nome, achava que era nome de caipira e então o mudou para Janaína, não oficialmente, claro, mas ninguém do seu relacionamento sabia seu verdadeiro nome. Infelizmente na escola seus professores a chamavam de Jucimara. Mas no momento não era isso que a preocupava, ela desconfiava que estava  grávida e não tinha coragem de fazer o teste. Pior ainda é que não sabia quem era o pai. Desolada se maldizia por ter sido tão descuidada. Se falasse pra sua mãe ela ficaria muito feliz e a jogaria pra cima do Jorge. Se falasse pro Mateus ele faria a mesma coisa. Pensou na possibilidade de fazer um aborto, mas não tinha coragem pra tanto. Quem sabe era um alarme falso, um aviso pra ela tomar mais cuidado. Resolveu esperar mais um pouco.

JORGE
Jorge não se conformava por não ter acumulado dinheiro em uma conta secreta. Agora viria a calhar. Poderia quem sabe comprar uma casa para se encontrar com Janaína. Ela era tão pura que ficava chateada toda vez que iam para um motel. Infelizmente não tinham outra opção, já que não podiam ser vistos juntos. Era uma maratona toda vez que se encontravam e quando ele a deixava. Não podia nem passar na sua rua. Ficava furioso com Helena e com a mãe da Janaína. Tinha que ser tão antiquada, tão controladora? Que inferno não poder se encontrar todos os dias. Precisava arrumar alguma distração, pois ir pra casa cedo era um saco! Geralmente Helena não estava. Parece que queria ser a melhor corretora! Como se ela precisasse de mais dinheiro!
Com Janaína envolvida com a família, sem outra distração foi para casa cedo como nos últimos dias. Helena estava em casa, o Jr sabe-se lá onde estaria e Clara tinha acabado de sair para se encontrar com as amigas.
Inexplicavelmente Helena estava bem humorada, falando pelos cotovelos, justo hoje que Jorge estava irritado. Falou que estava indo bem na imobiliária, que tinha concluído algumas vendas. Quem estava interessado nisso? Jorge fingia que ouvia, com o pensamento em seus problemas. De repente começou prestar atenção no que Helena estava falando. Ela estava falando em viajarem. Os dois! Como se ele fosse um desocupado! Adalberto podia se dar ao luxo, pois tinha a ele pra cuidar da fábrica. E como se ele quisesse viajar com ela! Nem quando ela era jovem e um tantinho interessante não se dispôs a sair pelo mundo com ela, quanto mais agora que ele tinha Janaína.  Claro que Jorge não falou dessa forma pra Helena. Disse que essa era a pior época para se ausentar da fábrica. Ainda se pudesse contar com o Jr para alguma coisa, talvez pudesse também se dar ao luxo de viajar. Jorge decidiu que mesmo que Helena ficasse chateada, não iria viajar com ela.

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