JANAÍNA
Janaína só tinha o ensino fundamental que concluiu aos trancos e barrancos. Não gostava de estudar, não gostava de regras e a escola era cheia delas. Na escola era muito popular entre seu colegas e apesar de não se empenhar muito, alguns professores gostavam dela a ponto de a ajudarem a passar de ano. Sua mãe ficava enlouquecida com sua falta de interesse, seu padrasto dizia que mulher não precisava ser muito letrada. Sua mãe vivia implicando com suas amizades, seu comportamento.  Nada era bom o suficiente pra sua mãe. Como era reclamona! Implicava com seu padrasto, por ele ficar muito tempo em casa. Criticava sem dó nem piedade por ele ter perdido a visão de um olho em uma briga. O coitado precisou parar de trabalhar por isso, e ela só reclamava. Queixava de ter de fazer faxina pra ajudar nas despesas de casa. Vivia falando pra ela endireitar o corpo pra andar, sentar assim ou assado, sorrir quando cumprimentasse as pessoas. Queria que ela estudasse. Dizia que o futuro delas dependia disso!  Parecia louca!  Seus irmãos podiam fazer o que quisessem,  namorar quem bem entendessem, mas ela não, sua mãe sempre dava um jeito de espantar seus namorados. Primeiro fazia uma investigação completa, se fosse pobre: adeus!    
Apesar de não concordar com os métodos da sua mãe para selecionar seus namorados, Janaína ia levando... até conhecer Matheus. Janaína ficou deslumbrada com seu jeito largado e encantada com sua coragem: ele era motoboy! Que profissão perigosa!
Quando começaram namorar, Janaína contou como era sua mãe e disse que tinham que namorar escondido. Matheus achou ótimo, pois assim ela não viria com a conversa de conhecer a família e nem de namorar sério.  Mas achou um barato a mãe de Janaína ter esse tipo de preocupação com o futuro dela.
 Com o dinheiro que ganhava de Jorge ela presenteava Mateus com roupa, tênis, óculos de sol, perfume, até ingresso pra assistir futebol. Mateus aceitava com a maior naturalidade e até fazia exigências, quando ela demorava pra comprar alguma coisa pra ele.
Agora além de sua mãe tinha também o Mateus para pressioná-la a tirar dinheiro de Jorge. Tinha que se desdobrar entre namorar, encontrar Jorge e trabalhar.  Jorge até propôs pra ela parar de trabalhar, para ter mais tempo pra ficar com ele, mas Janaína sabiamente recusou dizendo que sua mãe a mataria se ela saísse do emprego. Ela não gostava de trabalhar no mercado, mas era preferível a ter que se encontrar mais freqüentemente com Jorge. Nem contou sobre esta proposta pra sua mãe, pois a velha ia aprovar e aí, adeus sossego. Sua mãe vivia dando sugestões para ela convencê-lo a se separar da mulher, mas Janaína preferia encontrá-lo de vez em quando, contar umas mentiras pra conseguir dinheiro e depois viver a vida dela. Jorge nem sabia que ela tinha celular. Ela falou que não tinha porque era caro. Então ele se propôs a comprar e pagar a conta. Ela recusou, dizendo que a mãe dela se descobrisse que ela tinha aceitado presente de alguém, trancaria ela a sete chaves. Com este argumento ele desistiu. Ufa!

     TIANA
      No segundo dia de sua mudança, Raimundo saiu pra cuidar do caminhão, combinar frete e Tiana ficou com muito tempo livre, como há muito tempo não tinha. Arrumou a casa como foi possível. Toda hora uma vizinha vinha até a porta perguntar alguma coisa, contar uma novidade, oferecer ajuda no que precisasse. Muito diferente do bairro da parenta que não se sabia o nome de ninguém, onde os vizinhos mal se cumprimentavam. Aqui tinha calor humano, solidariedade! Sem contar que a Jucimara com suas novas amigas, estava tão feliz que tava dando sossego. Logo percebeu que passava vendedores ambulantes toda hora. Quem comprava pipoca ou sorvete, tinha que comprar pra todas as crianças e ela não tinha nem um tostão. Pensou com pesar que teria que pedir dinheiro pro Raimundo. Será que ele ia achar ruim?
Na casa da parenta ela não tinha salário, mas como ela trabalhava, quando precisava de algum dinheirinho pedia pra parenta sem muito problema. Lá tinha fartura de comida, frutas, doces e Jucimara se alimentava direito. Aqui tinha somente o básico no armário e bobagens que passavam vendendo na porta e as vizinhas compravam. Decididamente precisava conversar com o Raimundo sobre isso.
Raimundo chegou à tarde com lingüiça, pinga e limão, a noite prometia! Seria melhor falar de dinheiro antes ou depois de beber?  Tiana achou melhor esperar e ver no que dava. A casa estava limpa, arrumada, com melhor aspecto e Raimundo nem notou.  Tiana também estava arrumada, de cabelo preso, de batom e Raimundo não elogiou. A noite foi como a anterior, lingüiça assada, caipirinha e dança e Tiana nem se lembrou dos problemas. Ficou torcendo pra Jucimara dormir de novo na vizinha.
Na manhã seguinte Tiana estava de ressaca e Raimundo não, afinal já estava habituado com estas noitadas.
Raimundo avisou que ia viajar e ficaria uns dez dias fora e quando Tiana estava ensaiando como ia falar de dinheiro, Raimundo se antecipou e colocou em sua mão um bolinho de dinheiro. Tiana quase rodopiou de alegria! Afinal estava se preocupando à toa!
Não ia convidar a  parenta pra tomar chá, mas tinha uma boa vida!
JORGE
            Quanto mais ele conhecia Janaína, mais ele a admirava. Uma jovem pobre, trabalhadora e nada interesseira. Que pena  ela não ter celular. Tinha tanta vontade de ficar mandando mensagem pra ela como via seus filhos fazerem.  O Junior conseguia até brigar por mensagem! Mas com a Janaína ele nunca teria motivos pra brigar. Gostaria de falar com ela a hora que quisesse sem ter que esperar ela ligar. Mas ela era uma filha obediente, então era melhor se conformar.
            Quanto mais qualidade ele via em Janaína, mais ele implicava com a mulher. Sempre que podia se referia a ela como “uma senhora”. Irritava-se com os cuidados que ela tinha com ele: Sempre perguntando se tinha tomado o remédio de pressão alta, falando pra não sentar de costas pra janela, por causa do vento, lembrando a data da consulta com o cardiologista, aquele médico alarmista. Mal sabia ela que ele estava no auge do seu  vigor! Outra coisa irritante era agüentar as piadinhas dos empregados no futebol. Idéia do metido do Adalberto: confraternizar com os funcionários! Formaram até um time. Tudo bem antes de conhecer Janaína, que ele tinha poucas opções de divertimento, mas agora tinha mais o que fazer. Se perdia um gol, ou dava um passe errado, os engraçadinhos ficavam perguntando se o velho estava cansado, se estava com dor  nas varizes, se a barriga estava atrapalhando, um atrevimento! Perguntem pra Janaína quem é velho! Helena sim é velha. Sempre os mesmos assuntos: Renoir, Picasso, da Vinci. Quem liga pra esses caras que morreram faz tempo? Que não fariam falta se nem tivessem nascido. Vivia arrastando ele pra teatro, concerto. Quando começaram namorar, tudo bem ir pra conhecer, mas fazer disso um hábito já era querer demais. Ir ao cinema assistir filme de ação já estava mais do que bom. Helena ficava desesperada quando lia a notícia que tinham roubado algum quadro de algum museu ou galeria. Jorge ficava chocado de saber que alguém pagava por uma coisa daquelas e o que é pior: se arriscar a ser preso por roubar um quadro que tinha certeza, a dona Genoveva faria melhor.


Jorge também não entendia porque Helena fazia tanto sucesso nas reuniões de amigos. Ela estava sempre rodeada de gente conversando animadamente, e todo mundo prestando atenção ao que ela falava.  Um amigo até elogiou o novo corte de cabelo. Disse que a cor tinha ficado ótima, que combinava mais com ela.  Novo corte? Nova cor?  Afinal indo tanto ao cabeleireiro... Na idade dela tinha que apelar pra estes recursos, coitada. Ah, se essa gente conhecesse Janaína! Beleza natural!
Ficava imaginando Janaína entrando e todo mundo olhando de boca aberta: Morena, calça justa, barriguinha de fora, cabelo solto, não, melhor preso, é muito armado. Tamanco alto, unhas pintadas de vermelho, brinco de argola enorme. Se Janaína entrasse ninguém nem olharia mais pra Helena. Mas isso seria impossível, então o jeito era tomar outro uísque e agüentar o olhar de reprovação da Helena. Dane-se.

TIANA
Apesar de não amar Raimundo e ele ser mais velho, feio e grosso, Tiana estava contente. Afinal ela não ia casar, só morar junto. Ia fazer um pé de meia e depois, quem sabe...
Tão logo Raimundo falou que tinha alugado casa ela ensacou as suas roupas  e as da Jucimara, e de nariz empinado despediu-se da parenta, não sem antes convidá-la para um chá como via as mulheres ricas fazerem nas  novelas.
Casa foi o que Raimundo falou, mas depois de passear por duas horas no caminhão com Jucimara enlouquecida pela novidade chegaram num bairro de periferia, numa rua sem asfalto, num quintal com vários cômodos, muitas crianças e muitos cachorros. A primeira coisa que Tiana pensou, foi que teria que cancelar o chá com a parenta, a segunda foi que deveria ter esperado um pouco mais pelo príncipe encantado.
Todo mundo do quintal conhecia Raimundo, todo mundo tinha sotaque e todos foram muito simpáticos com ela. Não era de todo mau. Até ela ver onde iam morar: um quarto e cozinha com mobília velha. Decididamente ali a parenta não tomaria chá. Raimundo nem percebeu sua decepção, ou se percebeu nem se importou, ele não era homem de aturar frescura de mulher.
Jucimara adorou ter tanta criança pra brincar e nenhuma regra. Na casa da parenta não podia correr nem gritar, coisas que aqui todas as crianças faziam o tempo todo.
Tiana acomodou as suas roupas e as de Jucimara o melhor que pode e pediu para Raimundo trazer a roupa dele pra ela arrumar, mas ele falou que só tinha uma sacola com algumas trocas no caminhão, nem precisava guardar, pois ele ia pegar estrada dentro de dois dias. Tiana estranhou, mas tinha uma casa pra cuidar, precisava limpar, fazer a janta. Raimundo ficou de bate-papo com o pessoal do quintal, bebendo e rindo, enquanto Tiana que já tinha terminado a arrumação e sem ter mais o que fazer não sabia se chamava Raimundo pra jantar ou se ia lá fora conversar.  Não o conhecia  bem pra saber se ele ia se importar com qualquer atitude que ela tivesse. Decidiu ir lá fora, pois ouviu música do tipo que ela ouvia lá na sua terra. Raimundo não  achou ruim por ela aparecer lá no quintal, até ofereceu bebida, apresentou pros conhecidos. Parece que eles aprovaram a escolha do Raimundo. Logo todo mundo tava dançando, comendo lingüiça assada numa churrasqueira de lata e bebendo caipirinha. Nada mal seu primeiro dia de juntada! A primeira noite também não foi ruim. Com tanta caipirinha e dança Raimundo não pareceu tão feio, nem tão velho. Jucimara dormiu na casa de alguma vizinha e Tiana depois de longos anos dormiu com um homem... sem proteção novamente. Mas agora ela não devia satisfação a ninguém, nem a sua mãe nem a parenta.


HELENA
Helena não tinha ido ao cabeleireiro e nem tinha falado que iria, mas dona Genoveva adorava dar essa desculpa quando ela não estava em casa e Jorge sempre acreditava. Hoje ela tinha saído como em todos os dias para ir ao trabalho, mas entre um cliente e outro tinha ido se encontrar com Roger. O encontro foi maravilhoso, Roger entregou mais um  presente que tinha comprado na última viagem e como sempre insistiu que ela se separasse de Jorge. Ele não se conformava que uma mulher como Helena conseguia viver com um homem tão rústico como Jorge. Nem uma das justificativas que ela dava satisfazia. Ele queria mesmo era ela só para si.
Era uma pena que perdessem tempo discutindo a rusticidade de Jorge ou a importância do seu casamento, mas era o preço por ter um envolvimento assim.

JORGE
Apesar de estar feliz com o relacionamento com Janaína, Jorge queria mais. Sabia que não poderia viver com ela, pois a mãe conservadora não permitiria. Divórcio estava fora de cogitação, pois tinha certeza que seria chutado da fábrica por Adalberto e Helena. Mas ter uma mulher como Janaína e não exibir era de matar!  
Como e pra quem, passou a ser a preocupação de Jorge. Todo mundo que ele conhecia, tinha a ver com a fábrica e conseqüentemente com Adalberto e Helena. Os amigos de fora da fábrica eram do tempo que era um simples operário e com o envolvimento com a fábrica essas amizades foram ficando para trás. Retomá-las só para exibir Janaína não seria uma boa idéia.
Jorge estava com muita pena de Janaína, pois sua tia estava prestes a fazer uma cirurgia e ela bondosa como só ela conseguia ser estava angariando fundos para pagar o médico. É claro que ele ia colaborar, mas estava cada vez mais difícil justificar as retiradas de dinheiro da fábrica. Deus me livre ter que se explicar pro Adalberto!
Com estas preocupações na cabeça, seu telefone tocou e era Clara, sua filha pedindo que ele aumentasse o limite do seu cartão de crédito, pois precisava comprar umas “coisinhas”. Indignado ligou no celular da Helena, mas estava desligado. Ligou em casa na esperança que sua mulher estivesse lá, mas a empregada atendeu e falou como era seu hábito, que dona Helena estava no cabeleireiro. Jorge estava furioso, sem paciência pra família. Não se conformava da mulher ir tanto ao cabeleireiro e estar sempre do mesmo jeito. Ninguém tinha limite naquela família, todos pensavam que dinheiro dava em árvore! O Jr então, só estudava, uma interminável e cara faculdade. Já tinha destruído vários carros e Helena ainda dizia que era “fase”. As fases dos seus filhos só davam prejuízo. Queria ver se eles tivessem uma vida dura como a Janaína, ou como a dele. Mas hoje ele ia ter uma conversa séria com a mulher sobre o limite do cartão da Clara. A Janaína não ia mesmo ligar, pois estava envolvida  com a cirurgia da tia, então o jeito era ir logo pra casa resolver este assunto.
    Chegou antes de Helena que chegou a casa com umas sacolinhas de supermercado. Não tem nada mais inocente e doméstico que uma mulher chegar a casa com sacolinhas de mercado. Jorge ficou desarmado quando viu que Helena havia comprado seu queijo predileto e as frutas que ele tanto gostava, que se esqueceu de reparar no seu cabelo. Decidiu abordar o assunto limite do cartão sem muita agressividade.  Quando ele começou a falar do pedido da Clara e que não via necessidade de aumentar o limite, Helena logo cortou a conversa, dizendo que a filha tinha começado um curso e precisava de umas “roupinhas” coisa natural na idade dela e de acordo com o nível social da família. Jorge desistiu de discutir. Se não fosse as frutas e o queijo ele diria quantos parafusos seria preciso vender pra comprar as “roupinhas” da Clara.  Amanhã ligaria para o gerente.

      TIANA
Tiana nasceu pobre numa família de doze filhos no sertão da Bahia. Muito jovem engravidou de um dos garotos pobres como ela, com os quais ela se divertia. Nasceu Jucimara e sua mãe aproveitou o pretexto para mandá-la para o sul morar com uma prima distante.
Foi uma experiência terrível, pois para pagar sua estadia, tinha que trabalhar e muito para a parenta, além de cuidar de Jucimara, que não era uma criança fácil. Morria de vontade de sair pra dançar e namorar. Tinha saudade da liberdade que tinha no sertão, mas a parenta não facilitava, sempre alertando do perigo de engravidar novamente. Sem contar que a parenta não tomaria conta de Jucimara pra Tiana se esbaldar.
Foram quatro anos de sacrifício, trabalhando em troca de casa e comida pra ela e a filha, até conhecer Raimundo um caminhoneiro nordestino que se interessou por ela e a convidou para morar com ele sem se importar por ela já ter uma filha.  Ela aceitou de pronto, já imaginando uma boa vida, tendo sua própria casa, conta no banco, talvez até aprendesse dirigir...  foi com este espírito, e de nariz empinado que ela deu a notícia pra parenta. Claro que a parenta disse que ela estava sendo ingrata, mas não ia fazer nada pra impedir, que se Tiana quebrasse a cara  ela não a aceitaria de volta! Dito isso a parenta ligou pra Bahia e encomendou outra para substituir Tiana.

JANAÍNA
Janaína tem vinte e três anos, trabalha em um supermercado de bairro e está apaixonada.  Infelizmente é um amor impossível, pois ele é pobre! Sua mãe não pode nem sonhar que ela se encontra com Mateus. Tem que viver se escondendo como uma criminosa, pra poder namorar. E o pior é que Mateus nem se incomoda com a situação. Acha que sua mãe está certa em querer que ela dê o golpe no velho.
Até conhecer o Mateus, tudo bem em se aproveitar da ingenuidade do velho babão. Era divertido contar histórias tristes da sua vida, reclamar do padrasto, dizer que sua mãe era conservadora e que sonhava vê-la casando de véu e grinalda. Ele ficava tão apavorado com a possibilidade de perdê-la, que a recompensava generosamente.  Terrível era ter que sorrir ouvindo as intermináveis e chatas histórias de como ele começou por baixo e foi subindo por merecimento. Ouvi-lo falar do preço do aço, de encrencas com funcionários e blá, blá, blá. Era conversa que não acabava mais. 
Janaína inventou que sua mãe não poderia saber sobre o seu relacionamento com Jorge, pois assim ela tinha desculpa para ficar algum tempo sem se encontrarem, mas a mãe logo a pressionava com medo de perder a galinha dos ovos de ouro.  Dizia que com o dinheiro que ele tinha se ela não se empenhasse, outra espertinha ia se candidatar. Aí ela ligava de um telefone público e dizia que estava com saudade, carente ou qualquer outra bobagem do gênero, e o Jorge acreditava.  Lá ia ela agüentar as chatices e outras coisas mais. Ainda bem que existe whisky. Era só incentivar ele beber que ele logo dormia e quando acordava não se lembrava de quase nada, então era só fantasiar um pouco que ele acreditava que tinha sido um amante incrível.
(continua)







HELENA
A mulher do Jorge tem cinqüenta anos e também se considera uma mulher de sorte. Herdeira da metade da fábrica de parafusos, uma empresa rentável que não lhe dá a menor preocupação, pois Jorge toma conta com competência, amor e carinho. Tem dois filhos adultos, saudáveis. Tem um bom emprego e... um amante. E que amante! Jovem, bonito, atlético. Trabalha em medicina esportiva, um trabalho que exige que faça muitas     viagens, inclusive para outros países. (ele fala outras línguas).
Ao contrário de Jorge, ela não está apaixonada, está só exercendo o direito de se divertir, mas o jovem está muuuito apaixonado. Morre de ciúmes, até do Jorge. Quer que Helena se divorcie para ficar com ele! Coisa que não lhe passa pela cabeça, fazer. A diferença de idade não é tão gritante como a diferença do Jorge e sua “namorada”, mas Roger é mais novo que ela e no futuro esta diferença vai pesar. Sem contar que ela não o ama, então não é o caso de acabar um casamento de anos por uma aventura.
Helena tem o melhor emprego que alguém poderia querer na atual circunstancia: é corretora de imóveis. Pode ir a qualquer lugar com qualquer pessoa sem chamar atenção. Inclusive foi assim que conheceu Roger, mostrando um apartamento que ele acabou comprando.
JORGE
      Com cinqüenta e cinco anos bem vividos, como ele mesmo dizia, Jorge se considerava um homem de sorte.
       Nasceu de família pobre e hoje era sócio da fábrica de parafusos do seu falecido sogro. Na verdade era casado com a sócia da fábrica. O outro sócio era seu cunhado, Adalberto que na opinião de Jorge, um sujeito metido a grande coisa, que só porque fez faculdade e trabalha numa multinacional se acha melhor que os outros.
Jorge trabalha muito. É o primeiro a chegar e o último a sair. Comanda tudo com pulso firme. Ama aquela fábrica! Começou na função mais subalterna e hoje é o dono! Quer dizer, é casado com a dona e cunhado do outro dono. Mas na maior parte do tempo ele não se lembra desse detalhe. Afinal é ele que cuida de tudo, desde a produção até a venda. Supervisiona, pois a fábrica cresceu tanto que foram necessárias várias mudanças, criação de departamentos com seus respectivos encarregados, gerente disso e daquilo, departamento de pessoal e os cambal. Mas apesar de ter chefes e gerentes às pencas ele é o manda chuva! Delegar não é com ele.
Jorge está muito feliz, e não é com o lucro da fábrica. Jorge está apaixonado! E acredita piamente que é correspondido. Janaina é o nome da sua paixão, e ela tem vinte e três anos, dois anos a menos que sua filha.
Tem horas que ele nem acredita como é possível uma moça como Janaina gostar dele. Gostar é pouco, ela o venera, admira, respeita, bem o contrário da sua mulher que o vê como um marido qualquer. Não o valoriza, talvez por não ter um diploma de faculdade, por não falar inglês como Adalberto
O tempo que ele passa com Janaína é só felicidade. Ela está sempre feliz, acha graça em tudo que ele fala, não economiza elogios!  Já Helena, sua mulher, nem quer ouvir falar em parafuso, porca ou arruela. Não quer saber se faltou funcionário ou se o sindicato está atrapalhando.
Jorge acha que o motivo de Janaína ser tão maravilhosa é por estar apaixonada, porque a vida dela não é fácil, coitada. Órfã de pai, mãe rigorosa e padrasto terrível! E com tudo isso ela é uma filha amorosíssima e preocupada com toda a família. Motivos não faltam, pois como ficam doentes os parentes dela! Cada doença complicada! E pra piorar ninguém tem plano de saúde. A mãe dela tem uma doença rara que aflige a pobre filha. Janaína tem medo que a mãe morra e ela tenha que ficar morando com o padrasto, pois pra complicar, tem irmãos menores e ela amorosa como é, jamais os abandonaria.
(continua)

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